TELMAH, A Tragédia do Desencontro
Editora Chiado
Portugal, 2019
Quando Hélio Parfia chega a Madri, após o ataque terrorista que assolou o mundo no dia 11 de março de 2004, um furgão quase o atropela na frente de seu hotel. Ao salvá-lo, uma mulher morre em seu lugar.
Nos dias seguintes, enquanto tenta encontrar alguma informação sobre sua heroína, alguém invade seu quarto, rouba suas roupas, e Telmah Millais entra em sua vida com um beijo, como se já o conhecesse há tempos.
Hélio se vê, então, no meio de uma trama ilógica, cada vez mais apaixonado pela desconhecida e desafiando as leis do espaço e do tempo.

PRÓLOGO

Henrique V

Caro amigo,

Não terei tempo de reler aquilo que irei escrever e, a fim de que você compreenda meus motivos, irei esquecer, por alguns momentos, o que hoje sei.

Um grito pela musa de fogo, para que ascenda ao céu mais radioso da imaginação: um país por livro, mulheres e homens por páginas e um rei para contemplar esta cena dramática. No papel de Hélio, eu mesmo, com todas minhas virtudes e hesitações e meus infindáveis defeitos.

Mas perdoe este espírito áspero, terra a terra, que ousa escrever com uma tinta indigna sobre um assim grande sujeito. Uma página em branco conter as ruas de Madri? Onde podemos abrigar os turbantes fanáticos que semeiam o terror nos trens madrilenos? Oh! Perdoe-me: já que um número todo redondo pode, colocado em fila, fazer parte de um milhão e deixe-me, cifra para essa grande conta, na força de sua imaginação trabalhar. Suponha que dentro desta celulose comprimida está agora confinada uma grandiosa monarquia, cujas fronteiras passaram a ser imaginárias e cujos cidadãos passaram a conviver com seus próprios inimigos. Despreze minhas imperfeições com seus pensamentos: em mil adjetivos divida um substantivo e crie uma imaginária potência. Pense, ao ler a palavra “carros”, que você os vê, imprimindo seus pneus no asfalto que os sustenta. Porque cabe aos seus pensamentos equipar nosso reino, portar-me aqui e lá, saltar-me no tempo e transfigurar a realização de vários dias em algumas horas de ampulheta. Como ajuda, admita-me como entrelinhas para esta narração, e, tal como prólogo, peço sua humilde paciência, gentileza para me ler e amabilidade para me julgar.