Tiziano
Tertúlia, 2013
Sou pai. Não carreguei meu bebê na barriga, não tive enjoos, não dormi mal durante os últimos meses, não conheci a dor do parto, mas, no último dia 14 de fevereiro, às duas e cinco da manhã, também dei à luz um filho, abraçado à minha esposa, em uma das mais privilegiadas maternidades do sul da França. De um lado, a cidade de Nice; do outro, a Baía dos Anjos. Havíamos imaginado aqueles momentos durante nove meses. Contudo, quando o querubim pousou, tomamos consciência de que havíamos sido capazes de projetar a cena, não o amor.
O amor incondicional é real; eu posso senti-lo, ele me toca. Não o amor incondicional que já estava aqui quando eu nasci – o amor filial –, tampouco o amor que tem crescido baseado em um respeito mútuo – o amor conjugal –, mas um amor novo para mim, que nasceu pronto quando eu já era homem, por alguém que não tinha feito nada para merecê-lo e por quem eu nunca mais deixaria de sentir o mesmo.
Como é possível amar alguém assim? Quem criou essa capacidade de amar? Não acho que a paternidade seja fundamental para a felicidade humana, mas acho que ela nos possibilita uma felicidade única.
Meu filho dorme. Acaricio a sua cabeça e também acaricio a cabeça de meu pai, por todas às vezes que eu não quis acariciá-la. Acaricio o meu filho como eu gostaria de ainda poder acariciar a cabeça de meu avô. Acaricio o meu filho como eu próprio gostaria de ser acariciado. Amo meu filho com o olhar, com meu gesto repetitivo, na minha posição inconfortável (desde que ele esteja confortável). Não quero que ele deseje ir a lugar algum, pelo menos enquanto não chegar a sua hora de crescer. Sei que não sou perfeito e que não serei um pai perfeito, mas farei tudo para que o meu filho diga que eu fui perfeito, tendo conhecido meus defeitos.
Será que ele vai gostar de xadrez? Será que ele vai gostar de tocar piano? Será que ele vai querer aprender japonês? Será que ele vai amar conhecer outras culturas? Ou será que ele vai ser mais cartesiano do que eu para que eu o possa amar e respeitar do mesmo jeito, apesar de nossas diferenças? Afinal, meu objetivo não será nunca que ele seja aquilo que eu gostaria de ter sido, mas que ele seja uma pessoa feliz e digna.
Que os homens desejem a sua amizade por saberem que ele é alguém de confiança. Que as mulheres procurem a sua companhia por saberem que ele as respeita. Que os mais ricos lhe deem oportunidades por saberem que ele é alguém corajoso e desinteressado. Que os pobres aceitem a sua ajuda por saberem que ele é alguém especial e humilde. Que ele respeite todas as religiões mesmo que decida não ter alguma. Que ele não faça diferença entre as cores e que respeite os perdedores, assim como eu desejo que ele aprenda a perder. E que ele seja mesmo um mestre na arte de perder, pois uma das maiores vitórias que um ser humano pode alcançar na vida é não ver alguma diferença entre ganhos e perdas, quando no final tudo é experiência.
Que ele chore e ria, que ele ame e perdoe, que ele durma tranquilo e corra com energia, que ele aprecie cada novo nascer do sol como se nunca o tivesse apreciado antes, pois a ele caberá viver a sua vida sem a encarar como se esta fosse a última, mas com a certeza de que cada oportunidade que temos é única.