Prefácio José Benicio

Outros, 2017

Quando alguém me pergunta que livro estou lendo, dou ao menos os nomes de cinco livros. Um que tenho lido antes de dormir; outro, nos transportes públicos e salas de espera; outro, nos cafés e restaurantes; e outro, quando vou ao banheiro. Normalmente, é assim comigo.

Por que não leio um livro de cada vez? Por que vou lendo aos poucos diversos livros? Porque cada livro me inspira um tipo de emoção, e não gosto de ler uma tragédia se estou me sentindo otimista. Jamais leria “De Pé na Estrada” pra ficar em casa ou “A Metamorfose” para abrir meu apetite. Por sinal, é por isso que às vezes passo semanas inteiras sem abrir um desses livros.

Todavia, há um tipo de livro que foge completamente a essa regra: um livro de poesias e, principalmente, quando se trata de um dos novos livros do poeta José Benício. Com um desses, não sou eu quem decide o que irei ler segundo o que estou sentindo, mas é o livro, sim, que decidirá como irei me sentir.

Ler um bom livro de poesias é como ouvir um bom CD de Jazz. Diminuímos a luz, abrimos uma garrafa de vinho e deixamos que cada faixa nos leve a um universo diferente. É como ler os cinco livros ao mesmo tempo. Uma aula de improviso. Uma enxurrada de sentimentos que podem nos destruir, mas que, logo depois, são capazes de nos levar ao paraíso. Por sinal, o poeta José Benício significa para mim aquilo que o Charlie Parker significou para o Jazz. Um ficou conhecido como “Bird”, o outro será para sempre o nosso bem-te-vi.

E, depois, quantas vezes não coloco para ouvir um mesmo CD? Quantas vezes não deixo um mesmo CD dentro do meu aparelho de som durante dias, como se o estivesse escutando pela primeira vez? Primeiro, porque se trata de um bom CD; segundo, porque mesmo que uma harmonia seja simples, o conjunto é complexo, e cada uma de suas faixas jamais me levará ao mesmo lugar duas vezes.