Pratenses
Jornal Destaque, 2015
Os pratenses são de ouro.
Comparado com algumas pessoas, sou um cara que já viajou bastante. Contudo, depois de mais de 17 anos vivendo fora do Brasil, não acredito mais na crença de que viajar tem o poder de nos tornar pessoas melhores. Cada novo lugar que conhecemos enriquece as nossas experiências, mas não nos ajuda, ao menos de imediato, a alcançar o reino da sabedoria.
Confesso que, na primeira vez que estive em Paris, mais exatamente no alto da Torre Eiffel, pedi para uma japonesa tirar a minha foto e, por um momento, até pensei: “Waow! Consegui!”. Consegui nada. Ainda teria de caminhar muito para ter o direito de escrever este texto.
E isso tudo porque tenho visto milhares de pessoas viajando por aí, tirando “selfies” ao lado da Monalisa, conhecendo três países em uma semana, colocando cadeados em pontes que viram apenas três vezes e tenho me lembrado de como eu próprio era em 98. Bastante fome eu tinha, verdade, mas muito pouca consistência.
Agora vamos fazer uma pequena experiência. Por favor, responda ao seguinte questionário:
1. O que seria capaz de mais enriquecer a sua vida?
a. Subir a Torre Eiffel.
b. Aceitar o convite de uma estranha para beber um café na sua cozinha.
Não estou dizendo que viajar não é bom. É ótimo! Como uma vez disse um amigo meu, espero morrer com uma mochila nas costas. Mas, para mim, mais vale passar um mês em Paris enfrentando fila pra comprar pão, fazendo amizade com alguém na fila do açougue e tentando aprender uma nova língua no tapa do que subir a Torre Eiffel só para colocar uma foto sua na internet. Mais vale passar duas semanas em Águas da Prata tomando uma cervejinha com alguns pratenses, tomando cafés nas cozinhas de estranhos e se banhando na Cachoeira Cascatinha com um grupo de amigos do que ir ao Rio de Janeiro só pra pegar um bondinho, tirar algumas fotos do Corcovado e achar que com isso se tornou uma pessoa melhor – ainda mais sabendo que Águas da Prata também tem o seu próprio Cristo.
A maior riqueza de um lugar não se encontra nos seus monumentos, mas nas suas pessoas, e, para tomarmos consciência disso, basta imaginar a cabeça de um parisiense que acabou de chegar a uma das cidades do interior de São Paulo para aprender português com o primo da prima de um amigo seu de Paris. Que aventura!
Mas certo que tudo isso é apenas a minha opinião. E, já agora, de brinde vou dar também uma sugestão: se você tiver condições para viajar, viaje, viaje muito, mas nunca se esqueça de que o lugar mais interessante do mundo se encontra dentro da alma humana.