Oração de um quase ex-alcóolatra I
Textos antigos, 2011
Neste mar de conflitos, deixamo-nos penetrar em nossos sonhos mais temidos. A tempestade que cai, fraca e eterna, transforma-nos a todos em histórias em quadrinhos, heróis, cômicos, infantis e quadrados. Partimos de uma natureza cega e ignorante e caminhamos para algo parecido com um bonsai podado.
Lembra-se de como éramos corajosos? Ríamos de tudo e chorávamos quando não ganhávamos uma goma-de-mascar, queríamos o mundo, e o mesmo mundo ruía quando não conseguíamos os nossos objetivos. Mas é claro que isso foi antes do inverno, antes da estação que começou a destruir nossos desejos frustrados com o objetivo de nos transformar em pessoas melhores. Começamos a aceitar a vida da maneira como ela veio, arrasadora como um napalm, para um dia chamarmos a isto tudo de maturidade.
Gostaria que me deixassem um pouco em paz. Gostaria de morrer um pouco angustiado por não ter conseguido tudo o que quis desta vida, morrer incompleto.
– Deus, O Senhor está aí? Não destrua tão rapidamente o que eu tenho de pior. Sinto-me fraco com esta imobilidade dos sábios, santos e profetas. Ainda quero morrer com uma explosão do meu ser ao invés de um dia, simplesmente, parar de respirar; quero morrer sem ter tido tempo para meditar sobre os fracassos e os sucessos que tive na vida; quero apenas viver, viver da maneira mais plena possível.