O garoto e o velho

Textos antigos, 2011

O garoto estava sentado na areia, a olhar para o mar. Santiago partira havia mais de dois dias, e o garoto andava preocupado.

“Vamos pra casa, filho.”
“….”
“Santiago está bem. Ele sabe cuidar de si.”
“Eu sei, mãe. Eu sei.”
“Você vai ficar aqui a noite toda?”

Ela foi embora, e o garoto continuou a pensar no amigo.

Santiago não pescava nada havia 84 dias. Falavam que ele se tornara finalmente um “salao”, que é o pior tipo de infortúnio, e, por causa disso, o garoto não estava mais podendo ajudá-lo. Depois dos primeiros quarenta primeiros dias, os seus genitores disseram-lhe para andar num barco com sorte, mas o garoto gostava do velho e lamentava cada um daqueles dias em que tiveram de pescar separados.

Recordava-se da primeira vez que vira Santiago. Ele estava brincando na praia, e Santiago estava recolhendo o seu material. Como os cabelos de Santiago eram da cor das nuvens, o garoto havia pensado tratar-se de um anjo, mas, como Santiago se ferira com um anzol, o garoto havia visto que ele também não passava de um homem comum. O garoto, então, desejara ser um dia como ele.

Pessoas como Santiago eram raras, pensava. Não bastava estar no lugar certo, na hora certa, para pegar o peixe certo. Era preciso ter disciplina, saber o que se queria e não vacilar no momento de agir. Isso era o que fazia do velho homem alguém especial.

Agora acusavam Santiago de estar terminado, e Santiago deveria provar mais uma vez ainda ser um bom pescador; não para os outros, mas para si mesmo. Santiago desejava morrer com os punhos em riste e não ser contaminado com algum tipo de sentimento destrutivo, conformista ou depreciativo. O garoto percebia isso e via em Santiago o mesmo pescador de sempre.

Santiago havia ensinado o garoto a pescar.

“Posso ir com você?”, o garoto dissera quando tinha apenas quatro anos.

Santiago parara de puxar o barco e olhara para o garoto.

“Você quer ir comigo?”
“Quero.”
“Amanhã, iremos pescar juntos.”

Em alto-mar, o garoto vira a habilidade de Santiago e sonhara que um dia teria o seu próprio barco. Ele iria ter o seu próprio peixe e iria provar também ser um bom pescador.

“Por que você quer ser um pescador?”, Santiago disse.
“Porque não me vejo fazendo outra coisa.”

Os dois amavam o mar. O garoto ainda era apenas muito jovem para conhecer o sentimento de se sentir em casa.

Uma brisa levantou alguma areia, o entardecer chegou, e a temperatura começou a baixar. O garoto sabia que Santiago estava pescando o maior de todos os peixes, e ninguém poderia ajudá-lo.