Espanha 82

Tertúlia, 2012

Eu tinha onze anos quando a minha infância acabou. Chorei muito. A camisa do Zico rasgada, as caras do Waldir Peres e os gols do Paolo Rossi. Lembro-me de ter feito figa pro Leão na Copa de 78, junto de minha família na casa de meus avós, mas foi apenas em 82 que realmente torci e perdi, que acreditei que o futebol era capaz de elevar um povo ao Olimpo mas que despenquei como Ícaro, ao lado de uma das melhores seleções de futebol que o mundo tem conhecido.

Penso que, quando comemorei o nosso tetracampeonato, o que comemorei mesmo foi a Copa da Espanha, como se eu tivesse ficado engasgado durante toda a Idade das Trevas, Era Maradona, e pudesse enfim tocar o Sol.

Novembro de 2011, eu estava saindo do elevador do meu antigo trabalho, que ficava na saída oeste de Paris, quando um colega francês meu me perguntou:

– Você viu que o Sócrates morreu?

Eles não foram somente os nossos filósofos, foram os pensadores da humanidade, que deixaram toda uma nova escola de futebol para as gerações futuras.

Às vezes sou assaltado por uma nostalgia do Brasil, dos anos em que fui feliz na Terra do Pelé e dos amigos que deixei ao longo do caminho. Contudo, sabemos que não podemos voltar atrás, que temos seguido um caminho, às vezes duro, que nos levou a ser pentacampeões, que posso apenas recordar e sorrir, como um orgulhoso soldado, ao se lembrar de uma das mais sangrentas batalhas que perdeu em uma guerra que tem vencido.

Aos nossos heróis que viveram pela Pátria.