Elas tinham o controle da situação
Textos antigos, 2011
Esta semana, viemos tomar conta de duas pequenas cadelas para um casal amigo, aqui, na Suíça Alemã.
Domingo, chegamos ao final do dia e fomos recepcionados com um chili con carne e cerveja. Ulálá, as duas cadelinhas, que gracinhas, que já conhecíamos, reconheceram-nos. Será uma excelente semana, pensei. Enquanto isso, no andar de baixo, diante de uma adega plena de vinho tinto, nossos anfitriões faziam a questão de nos dizer: “Podem ficar à vontade. Nós preferimos vinho branco”, e ficaríamos, mas, antes disso, eles partiram, e fomos dormir, para, no dia seguinte, acordarmos às sete da manhã.
Às sete horas, acordamos. As cadelas seriam, a partir de então, nosso despertador, para eu trabalhar no meu próximo livro, Piedade Recíproca, e para nós curtirmos a casa como se fosse nossa.
Aparecemos e foi a festa. Que coisinhas bonitinhas! Realmente! Pulando e lambendo-nos! Férias! Tudo é divertido quando estamos de férias! As únicas preocupações que nós teríamos de ter seriam: ver quando elas precisariam sair para fazer pipi ou cacá, dar-lhes de comer nas horas certas e brincar um pouco com elas para que elas não sentissem falta dos seus verdadeiros donos, pois, afinal, são crianças com apenas alguns poucos cinco meses de vida.
E leva pra fora, e trás pra dentro, e dá comida, e leva pra fora, e trás pra dentro, e brinca, e brinca, e leva pra fora, e trás pra dentro, e brinca, e brinca, e dá de comer.
Uma coisa, contudo, já começou a aparecer e que realmente não agradou muito. Era que, às vezes, elas pediam para ir lá fora e não faziam nada, e, como eu sempre saía com elas por causa das coleiras, começava a ser chato estar com um pouco de frio e ficar vendo-as comer grama e sentarem-se tranquilamente. Dentro, o meu computador ligado com o trabalho, e vinham elas, CAIM CAIM, quero fazer pipi, levava lá fora, e nada. Mas tudo bem… Férias… Tudo é belo quando estamos de férias.
Quando chegou perto das dez – ainda estamos no primeiro dia – elas estavam cansadas, não mais do que nós, e dormiram embaixo do sofá como habitualmente fazem. Momento esse que sempre aproveitamos para fazer as nossas coisas, para nossos momentos de amor e para um pouco de repouso. Já de cara uma coisa era visível, eram férias, mas nem tanto assim, pois as pequenas realmente estavam tirando nossas energias.
Almoçamos, e elas acordaram. Oba! Festa, festa! Leva pra fora, faz pipi, volta, corre, brinca, come, sai, não faz nada, entra, sai, não faz nada entra. Então, o inevitável aconteceu. Um cocô dentro, no tapete. Limpo, depois um xixi. Brinca, não posso brigar, são crianças, querem sair, saio com as duas, comem grama, não fazem caca e nem pipi, entramos, brincam, depois vão até à porta, ah, não deve ser nada de novo, não levo, estou cansado, resultado, encontro novos cocôs e pipis dentro da casa. Limpo. Putz. Elas dormem, finalmente, mais um pouco. Aproveitamos para… descansar. Jantamos. É mesmo impossível. Uma coisa é certa, ter criança deve ser algo parecido. Algo que realmente rouba o tempo das pessoas. Obrigado papai e mamãe.
Vamos dormir exaustos. Terça-feira, acordamos novamente às sete com o gemido delas. No quintal, fazem já um pipizito e um caca. Beleza. Deitamos no sofá, mas não conseguimos mais dormir. Tensão. Elas choram, querem brincar, brincamos. Às oito e meia, tomamos o café da manhã, saímos com elas, pipi, caca, brincar, caca no tapete, pipi no meu pé enquanto estou escrevendo. Caraca! Decidido! Vou ter crianças, mas cães nunca!
Poderia aqui repetir o que aconteceu na terça, na quarta, na quinta, mas não vou, pois eu só falaria de caca no tapete, xixi no chão e comer grama. Só vou dizer que quanto mais tempo estava aqui, mas descontrolado as coisas ficaram. Parece que, até ontem, quanto mais eu levava fora, mais comiam grama e esperavam entrar para fazer suas necessidades. A coisa tornou-se incontrolável. Realmente, eu juro que eu estive perto de matar as duas. Confesso que dei um tapa na mais velha quando eu a peguei no meio de um cocô no tapete. Arrependi-me. São crianças, não entendem. Mas foi fogo. Cheguei, e ela estava no meio, eu gritei e pensa que ela se moveu? Que nada! Olhou para mim e disse com o olhar, pô, agora deixa eu terminar. Terminar u caraca! Bati-lhe, e ela correu. Deve ter sujado a bunda toda, pois cortou o cocô no meio. Ai ai.
Outro problema que começou a haver: elas começaram a ficar assustadas com a coleira. É que, às vezes, elas corriam e, no final, Puff, quase eram enforcadas. Uma ainda deu um salto triplo mortal para trás e depois veio correndo pra mim, tossindo e chorando. Detesto colocar a coleira nelas. A dona não faz assim e dificulta muito o trabalho, mas foi ela mesmo que disse que queria que elas só fossem lá fora dessa maneira.
Ok, férias é o catzo! Ontem eu já estava a fim de dar um tiro em minha cabeça. Eu quero voltar pra Lausanne!
Hoje, cacá e pipi 0 X 5 André e Jannick.
Na verdade hoje estou sentindo uma paz enorme, Já é meio-dia e estou repousado. Dei-me até ao luxo de escrever essa crônica. Não, não assassinei ninguém, mas é que descobri, infelizmente só hoje, a resposta para os meus problemas. Está saindo uma de cada vez. Coloquei a coleira na torneira da mangueira, fora da casa, esticada até aqui a porta. Então quando uma chega à porta querendo sair, eu nem saio mais, prendo a coleira e abro a porta. Tipo assim, dou dez euros pra cada uma que sai e come o que quiser. Fico olhando aqui de dentro, na maior paz, no quentinho, elas cagarem e mijarem quando querem, comerem a grama que quiserem, podem pastar a bosta toda. Como são crianças, é claro que não querem ficar sozinhas lá fora, elas querem é sacanagem, e rapidinho bate aqui na porta: quero entrar, quero entrar. Entra, a outra sai, faz a mesma coisa. A que tá dentro fica na porta eu quero sair também, juntas podemos brincar, mas não, uma por vez, acabou a sacanagem, aprendi o segredo da parada.
Não posso esquecer-me de dois detalhes: o primeiro é que o quintal é belo e a vista também, mas a parte da grama do terreno é como um campo minado. É cheio de caca de cão. E o segundo é que inicialmente só faltou chegar ao ponto delas escolherem o canal da TV para terem o controle total da situação.
Hoje é sábado e estou pronto para almoçar e esperar os donos chegar. Resolvi que não vou demorar muito, pois realmente estou cansado. Vou dormir muito amanhã. Porém posso dizer que nesses dois últimos dias tudo foi um sucesso. Acho que realmente aprendi o ritmo delas. Ontem para não dizer que foi de 0, a mais velha – de novo – fez um pipizinho e um cacazinho dentro, o que, acreditem, é uma grande vitória. Hoje não acontecerá nada parecido, pois pelos vistos o pior é à noite, quando elas têm preguiça de sair por causa do frio, e como vou embora umas três, passo a peteca.