Blues
Tertúlia, 2015
Morri afogado. Nas minhas próprias lágrimas, num copo de uísque, no meio do Saara. Lembro-me de que eu não estava sozinho. Depois, o empurrão. O empurrão, a queda e o mar. Eu e o mar. Sem salva-vidas, incapaz de nadar, com sede. À minha volta, apenas sal. Sal que também escorre das minhas íris e que sobrevoam a minha língua, como um vento seco.
Olho para o céu e vejo um arco-íris, um daqueles que circulam o sol e onde não há pote de ouro algum, só sal. Sal que tem estado presente nas comidas suculentas e que fizeram da minha morte um momento insosso. Eu ainda tentei me agarrar a algo – a uma mão, a um parapeito, ao centro da circunferência – mas apenas encontrei o vazio. O vazio, o mergulho e o sal. Eu e o mar. Mais ninguém.
Um dia eu fui até a uma encruzilhada e esperei pelo diabo, mas ele não apareceu. Que merda de alma que nem o diabo quis comprar. Aliás, você sempre soube disso. Você foi embora porque você sempre soube disso. Eu era apenas um cara que tocava blues, e você nunca deixou de ser o meu vermelho.
A minha última canção, aliás, foi pra você.
Mala faca bala tara Mala faca bala tara Mala faca bala tara Mala faca bala tara
Bolo nojo toco soro Bolo nojo toco soro Mala faca bala tara Mala faca bala tara
Cujo furo pulo muro Bolo nojo toco soro Mala faca bala tara Mala faca bala tara