Almoçando com Siddartha

Textos antigos, 2011

Bastou atravessar o longo túnel para encontrar um céu azul e sem nuvens. Normalmente é assim em Ticino, na Suíça italiana. Separado dos outros cantões pelos Alpes, muitas vezes já deu as boas vindas à primavera antes de ter terminado de nevar nas casas de língua francesa, alemã e romanche – dialeto que corre o risco de um dia desaparecer.

Eu dormiria de novo em Lugano, uma das principais cidades da região e um delicioso lugar para visitar. Aliás, na primeira vez em que lá estive, vi um cartaz na rua e reconheci o Pão de Açúcar. Não era. Era Lugano.

A princípio, como estou a viver na Suíça francesa, causa sempre um pouco de impressão ver tantas pessoas falando italiano (sem que sejam, necessariamente, turistas) já que nem saí do país, mas, depois, com os sorvetes e as pizzas, começo a me questionar se não saí realmente, pois, de tão bons, só podem ser italianos. E, por falar em Itália, nada mais do que um passeio de barco para colocar o pé na bota.

Mas o ponto máximo do meu feriado, depois de ter interrompido duas missas de Páscoa para encontrar uma língua que eu compreendesse, foi um passeio que fiz até à cidade de Montagnola, até a casa de meu “amigo” Hermann Hesse, o autor de Siddartha. A história, segundo o autor, do príncipe indiano que viveu antes dO Cristo e encontrou o Nirvana; uma doutrina romanceada que me portou tamanha lição que a tenho indicado para inúmeros conhecidos.

Hermann Hesse, filho de missionários alemães, estivera diversas vezes na Índia e na Itália, descobrindo, no primeiro, suas crenças e, no segundo, seu amor pela arte. E terminou seus dias pintando modestas aquarelas e quadros a óleo, como forma de terapia à sua mente questionadora.

“Ler um livro, para o bom leitor significa:
conhecer a personalidade e a mentalidade de um desconhecido,
procurar compreendê-lo, possivelmente conseguir tornar-lhe amigo.”
(Hermann Hesse)