15° Arrondissement

Tertúlia, 2011

Salão do Livro

Ontem fui ao Salão do Livro de Paris, curiosamente quando tinha de escrever sobre o décimo quinto arrondissement. E, melhor ainda, de graça, pois a organização do salão resolvera, desta vez, liberar a entrada para todas as pessoas que apresentassem a carteira de leitor das bibliotecas de Paris.

Hoje estou aqui para falar sobre esse salão, mas não posso deixar de aproveitar o ensejo para elogiar a rede de bibliotecas municipais que temos por aqui, por causa de sua qualidade e do seu acervo de obras a perder de vista. A inscrição é gratuita, e posso pegar emprestado, por três semanas e com direito a duas renovações, até quarenta livros.

Assim como nos outros dois anos em que fui ao salão de livros, a Île-de-France em massa deslocou-se em direção ao centro de convenções de Paris. O francês não é apenas um leitor inveterado como também várias pessoas veem, nos dias do salão, uma bela oportunidade para tirar fotos com seus autores preferidos.

Confesso que também tenho meu lado tiete. Ano passado, ano em que até trabalhei no salão para ajudar um amigo, pedi em italiano a Umberto Eco uma dedicatória em um exemplar do Il Nome della Rosa que havia comprado às pressas. Disse-lhe que meu avô era italiano e que eu também era escritor e, para minha felicidade, ele me desejou aquilo que eu desejo: auguri!

Espalhados por cinquenta e cinco mil metros quadrados: agentes, associações, instituições, universidades, livrarias, editoras, distribuidoras, revistas literárias e canais de televisão e de rádio. Impossível percorrer tudo, ou de caminhar em linha reta: pardon, pardon, pardon. A única coisa da qual eu realmente senti falta foi de livros em língua portuguesa.

Vários estandes também ofereciam aos novos escritores alternativas à publicação de seus livros (via internet, sob demanda etc.).

Claro que, no fundo, sabemos que não é o amor à literatura que faz essa grande roda girar, mas o dinheiro. O verdadeiro escritor ama escrever e quer viver de sua escrita, mas daí até a distribuição de sua obra é outra história. O verdadeiro leitor ama ler e quer ficar informado, mas daí até o que lhe é oferecido no interior das livrarias também é outra história. Contudo, a França ainda vive da literatura, e a língua francesa é um patrimônio nacional, o que vai completamente de encontro a esse mundo tecnológico e de entretenimentos onde hoje vivemos.