As Vinhas de Paris
Bonjour Brasil, 2012
Foi um verão maravilhoso, e tenho de aceitar que ele terminou. Tenho de voltar a escrever. Não é que eu tenha algo contra escrever durante o bom tempo, pelo contrário, adoro escrever em uma esplanada, mas tive meses tão plenos que me esvaziei por completo. Dei tudo de mim. Não para a literatura diretamente, mas para a vida, para a mesma vida que me ajuda a escrever quando o corpo cansa e eu me sento de novo na frente de uma folha em branco.
Se não estou escrevendo, estou vivendo, se não vivo, não posso escrever.
Amei rever as areias de Paris Plage.
Andei de Velib.
Fiz piquenique na beirada do rio Sena.
Admirei o interior do Hotel de Ville no dia do patrimônio.
Perdi-me durante a Nuit Blanche.
Bateau Mouche de dia. Bateau Mouche de noite.
Sábado, fomos a Montmartre ajudá-los a dar um fim a toda aquela vinha.
A noite estava agradável, e todas as pessoas resolveram ir conosco. A Rua Azaïs transformou-se em um vagão de metrô na hora do rush. Mas valeu a pena. Sempre vale. Tomamos um vinho e comemos um presunto cru. Vimos os fogos de artifício explodindo a poucos metros de nós e um cachorro querendo fugir. Seu dono tentava em vão acalmá-lo. Também vimos uma estrangeira que se perdeu de sua companhia e um jovem a entornar vinho sobre outras pessoas. Vimos ostras, enchidos, queijos e doces. Vimos toda uma vida que começa a fazer parte daquilo que penso que é Paris. Paris é mesmo uma festa.
Também estudei durante o verão: Java, Inglês, ASP, Grego, JavaScript e outros idiomas que podem abrir meus horizontes, tanto os pessoais quanto os profissionais. Recebi minha mãe por um mês e meio e recepcionei meu sobrinho que veio estudar na universidade Paris Huit: teatro. Andei, andamos muito, pois minha mãe marcou em um mapa tudo o que caminhamos e Paris se transformou em um emaranhado de linhas roxas e vermelhas. Acho que ela conseguiu partir daqui conhecendo Paris mais do que eu, apesar de ter sido eu a ficar com a cara de quem estava mais satisfeito. Aconchego de mãe continua sendo o melhor refresco.
Voltei a fazer teatro e voluntariei-me para dar aulas de computador no Pari’s de Faubourgs.
Também conheci Provins e estive na Suíça, quando comi em um restaurante gastronômico chamado Trois Tours. Sete pratos divinos e muito caro, o que agradeço a minha sogrinha.
E também tive meu lado entretenimento: vi a final nacional do Dîner Presque Parfait e alegrei-me com a vitória do Gregory. Vi clássicos e menos clássicos do cinema francês e ando vendo Koh-lanta, o meu substituto para o Pekin Express.
Quando fiz tudo isso? Nos últimos dois meses, durante minha ausência. Quero viver para a literatura, mas a literatura não é apenas escrever e tenho de ganhar a vida. Tenho de terminar meus próximos livros e não tenho todo o tempo disponível que gostaria. Além disso, dependo das correções finais (português para o francês) de minha esposa, quem também anda trabalhando muito e a quem eu muito agradeço por todo o esforço.
E não sei se estarei aqui no próximo verão, nunca sabemos o que iremos beber amanhã, mas posso dizer que vivo aqui mil anos por dia, e que Paris já faz parte de mim, e que já tenho feito ótimas colheitas.
Paris, je t’aime. Santé.