18° Arrondissement

Tertúlia, 2011

Montmartre

Quem diz Montmartre, diz Pigalle, diz Moulin Rouge, diz Sacre-Cœur; quem diz Place de Tertres, imagina Renoir, Degas, nus, Toulousse-Lautrec. Uma cena que foi eternizada pela vida que levou, quando era jovem, com seus vinte e poucos anos e seu copo de absinto, sentado ao lado de dançarinas de cancã. Contudo, quem vai a Montmartre, encontra um turismo desenfreado, escolhe lembrancinhas importadas e tenta evitar os golpes dos ciganos.

Nenhum pintor ou poeta poderá reviver os anos artísticos de Montmartre… em Montmartre. Hoje, a idade chegou para aquelas ruas, e o que fez aquele lugar ganhar a fama que ganhou foi a originalidade, não a reciclagem. É como se disséssemos que Van Gogh poderia voltar a pintar no mesmo quarto da casa de seu irmão, ignorando os turistas ao pé de sua janela e os guias a explicarem tudo aquilo que ele nunca imaginou.

Não podemos borrar cores que estão secas. O lugar físico está lá, mas a alma desse bairro partiu, espalhou-se pelo mundo, voou até os quartos dos jovens artistas desconhecidos que estão tentando viver de sua arte, uma arte faminta, acima de tudo; Amedeo Modigliani não vive mais no 18° arrondissement, vive na periferia, onde é capaz de pagar, com dificuldade, o aluguel de seu quarto.

Pigalle: sex shops e casas de massagem e de strip-tease; uma válvula de escape para todo o tráfico do sexo que existe na Europa. Mulheres dos países do leste que tiveram seus passaportes confiscados por cafetões e coquetéis a preços exorbitantes a serem pagos por curiosos desavisados.

Moulin Rouge: dançarinas de cancã a cem metros e uma garrafa de champanhe na mesa a cem euros.

Sacre-Cœur: a Meca católica – turistas a girarem no sentido horário em torno de um altar e a serem repreendidos por tirarem fotos escondidas; se quiserem clichês, que comprem postais na lojinha da paróquia.

Place de Tertris: caricaturas, quadros feitos em série e caros, uma homenagem ao nome da praça.

Mas nem tudo virou passado em Montmartre; ainda temos a vindima, que, apesar de quase nos impedir de andar pela Rua Azaïs, traz o senhor de sessenta anos de volta a casa, com a mesma paixão de quando era jovem, porém, mais experiente.

Montmartre dos seus boêmios, da vida que eu tive, Montmartre.