Classe, de Blandine Keller

Bonjour Brasil, 2012

Fui ao correio mais próximo de meu apartamento e, na saída, diante de um trabalho de colagem, fiquei sabendo que Émile Zola, Alexandre Dumas (pai e filho), Stendhal e o poeta André Chenier haviam sido meus vizinhos e que o jornal Aurore havia publicado o famoso discurso “J’accuse” a poucos metros de meu lar.

Não sou pessoa de puxar conversa com estranhos, mas, como uma senhora lia comigo aquele cartaz, deixei escapar que eu também era um escritor do segundo arrondissement, colocando-me com audácia ao lado dessas grandes referências da literatura francesa.

– Eu também – confiou-me ela – todavia, eu habito no décimo.
– Então, volte para o seu bairro!

Brincadeira, não foi isso que eu lhe disse.

Lá estávamos nós reunidos, a família Dumas, Zola, Stendhal, Chenier e nós dois, para eu começar a falar sobre o meu último livro e para ela começar a explicar-me um pouco sobre a sua mais importante obra: Classe, que virou peça de teatro e a qual peguei emprestado dois dias depois na biblioteca de meu quarteirão, graças à curiosidade que seus comentários me inspiraram.

Entre os lugares onde apresentaram a peça está Lausanne, cidade onde morei.

Que surpresa! Imaginando encontrar apenas um trabalho de caráter psicológico, descobri um texto acessível e com uma escritura de romper fronteiras; largos espaços saíram vitoriosos da feroz batalha que travaram contra as esperadas pontuações. Classe, de Blandine Keller, uma aula de literatura para alunos de um sexto ano contada como uma sessão de jazz inesperada, uma partitura sem barras, tendo como principal melodia a Odisseia de Ulisses, a navegar tão livre quanto a mente de uma criança, com apenas uma regra: respeitar as normas de comportamento dentro de uma sala de aula.

É impossível citar tudo o que um livro quer dizer ou afirmar qual foi a principal intenção de seu autor, mas poderei sempre dizer aquilo que eu senti ao lê-lo, como um ciclope imperfeito, cujo único olho será sempre apenas um resultado de minha visão particular do mundo.

Blandine Keller provou-me mais uma vez que há vida além do mundo que conhecemos, fora da fortaleza troiana das dispendiosas publicidades e das grandes distribuições. Talvez seja até mesmo uma boa ideia, aliás, esconder o seu livro dentro de um Cavalo de Troia e esperar que ele seja levado para dentro de alguma editora, que esse cavalo pareça inofensivo, para que as pessoas tenham a oportunidade de conhecer essa história sem a necessidade de um encontro casual dentro de uma agência do correio. Depois, o livro fará o resto.