AF447 Rio-Paris
Bonjour Brasil, 2012
Esse não é o lugar para discutir sobre as suposições que estão fazendo, sobre a recuperação dos corpos, a busca aos destroços, colocar a lista de passageiros e da tripulação, disponibilizar fotos ou contar a história de algum comissário de bordo ou de alguma aeromoça em particular. Se você veio até aqui à procura de informações ou de algum sensacionalismo, veio ao lugar errado. Esse espaço será utilizado hoje para fazer uma homenagem, para abraçar através das palavras aqueles que partiram e aqueles que ficaram, certo de que todos nós fomos atingidos, todos nós estamos ligados, e ninguém está livre das alegrias como das desgraças da vida.
Sei que é difícil compreender e achar uma lógica para um acidente de tamanhas proporções. Não o tentarei explicar. Sei que é difícil acalentar uma criança que ficou órfã, uma mulher que ficou viúva e uma mãe que está desesperada, não há nada pior do que perder um filho, mas, ao mesmo tempo, me permitam dizer o quanto acredito que, no meio de todo este aparente caos, tudo tem um sentido e que ninguém está desamparado.
A fé é um dom que não é dado a todos, e sinto-me abençoado por tê-la. Não pertenço a alguma igreja, a alguma crença, não tenho dogmas, apenas vícios, mas não acredito que tudo isso que tenho dentro da cabeça e do coração faça parte de um mero acaso. Acredito que “eles” estão bem, que nós também ficaremos bem, que todos nós nos reencontraremos lá e que voltaremos cá.
Àqueles que estavam no voo AF447 Rio-Paris e àqueles que não estavam no voo AF447 Rio-Paris:
– Comandante!
– Sim, marujo.
– Acabamos de aterrissar.
– Ótimo! Recolha as turbinas! Sabe onde estamos?
– No fundo do mar!
– Exatamente! Avise a todos que o voo correu como planejado.
– Senhor…
– Sim?
– A tripulação e os passageiros…
– O que têm eles?
– Eles estão à espera do senhor. Eles querem agradecê-lo.
– Ora, marujo. Diga-lhes que eu apenas fiz o meu trabalho…
– Eles insistem.
– Bem, se é assim, diga-lhes que eu irei ter com eles.
– Sim, senhor.
– E, marujo?
– Sim, comandante?
– Bom trabalho.
– Obrigado, comandante.
O avião abriu as portas e todos saíram do aparelho. Jamais haviam visto país tão belo. Em fato, jamais alguém havia tido a oportunidade de ver tal país. E, observados com curiosidade pelos peixes e baleias que se aproximaram, homens, mulheres e crianças começaram a bailar ao som das estrelas do mar.
– Olhem! – gritou um – Um carrossel de cavalos-marinhos!
“O azul profundo do céu correspondia ao verde fundo do oceano.”
(Os Trabalhadores do Mar, Victor Hugo)