Tragédia no Salão do Livro
Bonjour Brasil, 2012
Apresentações e agradecimentos feitos, essa tarefa pareceu-me mais difícil do que eu antes pensei. Não quero chegar aqui e apenas preencher um espaço vazio, a coluna vazia do escritor Carretoni, mas, sim, sentir que estamos indo na boa direção. Para onde exatamente vamos, não sei e sei que nunca chegaremos lá, mas, apesar de conscientes de que a perfeição continuará fugindo de nossos dedos, não poderemos jamais parar de caminhar.
Dia 16 de maio vi um filme encantador. Ele chamava-se “O brasileiro que vivia em Paris e que foi ao Salão do Livro da América Latina com a esperança de ver um de seus escritores preferidos, Luís Fernando Veríssimo, e que não chegou a tempo.” O final do filme não foi tão encantador quanto o resto, mas me portou uma nova lição.
Foi um problema de horas. Estava ciceroneando visitas de Portugal e na correria anotei o horário errado. Não anotei, quis decorá-lo e confundi-me com o horário da Adriana Lisboa. Voilá. Veríssimo já havia partido. Contudo, por quê? Por que me ter sentido tão frustrado por não ter conseguido encontrá-lo? O que eu lhe teria dito, afinal, se o tivesse visto?
Nada. Absolutamente nada. Ter-lhe-ia sorrido, dito meu nome para que o escrevesse numa das primeiras páginas de um de seus livros e teria desejado ser contaminado por seu talento, através de sua áurea, de seus átomos, como uma gripe ABC que é transmitida apenas entre escritores.
– Vá trabalhar, meu jovem. – é o que ele me teria dito.
As bancadas estavam cheias de livros em português, em espanhol e em francês. Procurei os meus, mas não os encontrei. Os copos estavam prontos para os coquetéis, as línguas presentes me lembravam de casa, e Adriana Lisboa estava de pé, cercada. Esperei que ela tivesse a sabedoria necessária para reconhecer os amigos e admiradores entre os aproveitadores, e isso deve ter sido um tipo de compaixão entre cariocas – não entre maçons – mesmo que eu já tenha dito não me considerar como tal.
José Muñoz estava sentado dedicando livros, Sébastien Lapaque e Carlos Salem também. E eu lá, com um vazio no peito, após ter perdido a oportunidade única de ver um de meus gurus literários.
Demorei duas horas para esquecer o ocorrido. Ainda bem. Jovem, teria demorado meses. A vida continuou, e eu tomei mais consciência de que eu tenho mesmo é de escrever. Esse é o caminho que me levará até a perfeição inalcançável que busco, não aquele no qual preciso ter um contato imediato com um pronome pessoal do primeiro grau.
– Obrigado, Luís.
Todavia, fica aqui exposta minha admiração.
Enfim, era também a Noite dos Museus, e fui ver a exposição de fotografias controversas na Biblioteca Nacional. Muito interessante, por sinal. Antes, havia pensado que encontraria apenas fotos chocantes, só que, na verdade, foi uma amostra feita com fotos que marcaram a história (se alguém ainda quiser vê-las, aconselho uma visita ao museu da fotografia em Lausanne, na Suíça, pois muitas fotos vieram de lá).
Mas, se, por acaso, você, Luís, estiver lendo esse texto, por favor, entre em contato comigo. Na próxima vez que vier a Paris, telefone-me, apareça na minha porta, aborde-me na rua, grite, pois, mesmo sabendo que você não precisa de alguém para lhe oferecer um Bourbon no Harry’s Bar, eu também sou gaúcho e prometo não o vampirizar. Sei que tudo que preciso está dentro de mim, mas penso que você deve ser um cara interessante pacas pra conversar.
Tudo bem. Nem tão pouco sou gaúcho, mas e daí?