4º Arrondissement

Tertúlia, 2011

Notre-Dame

Quando comecei a ler Os Miseráveis, em 2001, acreditava que este seria capaz de destruir o miserável que eu tinha em mim. Mais do que uma lição de estilo, buscava, através de sua leitura, encontrar o meu próprio humanismo, sentimento este até hoje inacessível.

Tampouco terminei de ler o livro.

Verdade seja dita: o livro é enorme e contem demasiados detalhes. Contudo, isso não nos impede de o colocarmos na próxima sonda espacial Voyager, dando sequência à sinfonia de Beethoven e aos números primos.

No quarto arrondissement: a Place des Voges, última morada do escritor Victor Hugo. Aliás, aconselho a verem o filme que conta a história de uma de suas filhas, Adele H, que, assim como Camille Claudel, enlouqueceu de amor e foi representada pela bela Isabelle Adjani, antes de, dizem, também ter enlouquecido. Nesse filme, poderão ver a praça e ela.

Coincidentemente, dentro do mesmo arrondissement, também encontramos a Catedral Notre-Dame, palco de outra obra do mesmo escritor e testemunha do amor incondicional entre a cigana Esmeralda e o corcunda Quasimodo. E aposto que muitos ficarão surpresos ao saberem quem havia escrito tal livro.

E como esquecer a ilha de St-Louis, com suas poucas e charmosas ruas a se espalharem em todas as direções de Paris através de pontes, inclusive daquela, onde podemos ver a estátua de San Geneviève, que foi esculpida com o mesmo material e pelo mesmo escultor que fez uma das mãos do Cristo Redentor.

L’Hotel de Ville, com suas exposições; le village de St-Paul, sempre referenciado nos livros de turismos; Le Marais, para quem gosta de cafés, galerias, boates GLS, moda…

O mais engraçado é que minha esposa e eu nos mudamos e tenho escrito este texto sentado num café em Antibes, no sul da França, mas a poucos metros de um busto de Victor Hugo, que passou quaisquer horas aqui em 1839 e que guardou um ótimo souvenir desta cidade.

“Tout ici rayonne, tout fleurit, tout chante. Le soleil, la femme, l’amour sont ici chez eux. J’en ai encore le resplendissement dans les yeux et dans l’âme.”

Adapto sua criação.

“Tudo em Paris irradia, tudo estonteia, tudo encanta. Os cafés, a mulher, o amor nos fazem sentir lá em casa. Eu ainda tenho o resplendor de tudo isso dentro dos olhos e da alma, mesmo depois de ter partido.”

Ilustração: Helton Souto
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