5º Arrondissement
Tertúlia, 2011
La Place de la Contrescarpe
No 5° arrondissement, você poderá comer um Extra Pitá no Quartier Latin, tirar uma foto na frente da fonte Saint-Michel, visitar os imortalizados do Pantheon, passear pelo Jardim de Plantas, ir ao Zoo, ter um ângulo único da Notre-Dame a partir do terraço do mundo árabe e jantar nos arredores da Place de la Contrescarpe, ápice desse arrondissement; Hemingway viveu a poucos metros de lá, Paul Verlaine morreu a poucos metros de lá, e duas placas indicam os locais.
Há outra placa perto da fonte de Saint-Michel que indica o prédio onde Villa-Lobos viveu. E mais uma que indica onde André Breton iniciou a escritura automática do surrealismo.
Acho que nunca comentei sobre isto: Paris está cheio de placas!
Wagner viveu aqui, Mozart se hospedou com a sua mãe aqui, Abelardo e Heloísa se encontravam aqui, Santos Dummont se hospedou aqui, Lizt se hospedou aqui, Chopin tocou aqui, Alexandre Dumas nasceu aqui, seu filho aqui, Victor Hugo viveu aqui, Delacroix morou aqui, Theo hospedou Van Gogh aqui, Camille Claudel partiu pro hospício daqui, a guilhotina que decapitou os reis ficava aqui, Picasso pintou aqui, Goya se hospedou aqui, a livraria Shakespeare and Company ficava aqui, o jovem Maurice Nãoseiquem deu sua vida pela França aqui etc.
Quero contar um caso antes que coloquem uma placa indicando o prédio do sexto arrondissement onde o presidente Chirac viveu. Estava tomando um aperitivo com minha mulher e uma amiga num restaurante até que comentei alguma coisa sobre o antigo presidente. Quem, então, de repente, apareceu? O próprio! Sorrindo e cumprimentando as pessoas, como um bon vivant. Fantástico! Claro que comecei a citar o nome da Carla Bruni. Contudo, para minha decepção, essa nunca apareceu.
De volta ao quinto, a Place de la Contrescarpe e a Rue Mouffetard foram a maior surpresa que tive quando vim morar em Paris. Acho que as pessoas apenas vão lá depois da segunda visita à cidade. É um lugar turístico, mas com um turismo diferente. As pessoas estão lá para respirar Paris, comer, rir, viver Paris! Longe dos grandes clichês e com a única preocupação de estar entre amigos.
Tenho levado todas as minhas visitas ao restaurante Pot de Terre, à la bonne franquette, onde aprendi a gostar de escargô, provei deliciosos magrets de canard e me apoiei nas mesas de madeira que sustentaram outrora os cotovelos dos mosqueteiros do rei; tudo isso iluminado por candelabros cravados nas mesas.
Visita boa aqui sempre mereceu o meu « fechar Paris com chave de ouro », que consiste em um passeio de Bateau-Mouche (Les Vedettes du Pont Neuf) durante o lusco fusco, jantar na Place de Contrescarpe e reentrar em casa a pé, tarde da noite, passando pelo Pantheon, pelo Boulevard Saint-Germain, Notre-Dame e beirando o rio Senna até a rua do Louvre, reta final pra minha casa. E, apesar das horas às vezes avançadas, jamais tive um problema de segurança.
Como amo essas caminhadas noturnas por Paris.
Não posso deixar de fazer uma publicidade a um restaurante de uma amiga. Caso queiram provar uma comida diferente, servida por pessoas queridas, procurem o restaurante tibetano Pema Thang na rua de la Montagne Sainte Geneviève. Os proprietários são refugiados tibetanos e uma bela foto do Dalai Lama tem sido uma das minhas melhores companhias para jantar.


Ilustrações: Helton Souto
www.andarnapedra.blogspot.com.br