8º Arrondissement
Tertúlia, 2011
Les Champs Elysées
Tendo chegado, enfim, ao epicentro turístico de Paris, restam-me duas opções: escrever sobre o Arco do Triunfo e os Champs Elysées e ficar aquém dos milhares de guias que já tratam do assunto ou elaborar um pequeno guia intitulado “aquilo que um turista precisa saber para não ser enganado em Paris”, um manual de sobrevivência que sempre desejei escrever e entregar nos portões de desembarque dos aeroportos Orly e Charles de Gaulle.
O oitavo arrondissement de Paris é, normalmente, o primeiro, do ponto de vista dos turistas. Foi assim pra mim. Na primeira vez que vim a Paris, quis ficar em um hotel que se localizava perto do Arco do Triunfo e achei que era lá que a vida acontecia. Realmente, é lá que a vida acontece, mas não a vida do parisiense que admiro, na qual podemos comprar peixe na feira e baguetes para colocá-las embaixo do braço (quel cliché). Hoje, depois de quatro anos vivendo aqui, raramente atravesso os Campos.
Claro que esse é o lugar ao qual não podemos deixar de ir, em uma primeira visita a Paris, mas, se você estiver planejando uma segunda visita à Cidade Luz, escreva-me e peça-me uma lista dos lugares que aconselho. Terei muito gosto em compartilhar “aquilo que Paris tem de melhor pra mim” com você, e o grande arco não estará dentro do meu roteiro.
– Jornal
Nem todos os jornais que nos enfiam na barriga são gratuitos. Apenas os jornais que nos dão no metropolitano o são: Metro, 20mn e Direct Matin. Se você decidir por segurar certo jornal que costumam distribuir na rua, tenha a consciência de que irão cobrar por ele.
Imagem: alguém lhe oferece um jornal, você segura o jornal, esse alguém diz que o tal jornal custa cinco euros, você lhe estica o jornal de volta, diz “não obrigada(o)”, e esse alguém faz tudo para não pegar o jornal de volta e receber uma pequena colaboração por ele.
– Lista de assinaturas
Desconfie dos abaixo-assinados. Se você encontrar uma pessoa dizendo que é muda e surda e pedindo assinaturas, saiba que aquilo que ela está pedindo é uma contribuição monetária para uma instituição que não existe.
Imagem: você aceita assinar a folha que nos enfiam na cara, a pessoa que está recolhendo assinaturas lhe pede para assinar uma segunda vez, uma terceira, ela tira o polegar do alto da folha, e você vê um valor em euros.
– Anel
Tampouco aceite anéis que tenham sido encontrados no chão por outra pessoa.
Imagem: uma pessoa finge encontrar um anel de ouro no chão, pergunta se o anel é seu, você diz que não, ela lhe oferece o anel, dizendo que não usa bijuterias, você aceita, e ela lhe pede uma colaboração por ele (afinal, trata-se de um anel de ouro e ela lho está oferecendo).
– Miniaturas da torre
Essa é mais delicada, pois a pessoa que costuma vender miniaturas da torre Eiffel na calçada não está roubando, está sendo explorada.
O problema aqui é que essas miniaturas têm vindo da China, ou seja, podem ter sido pintadas com tinta tóxica, foram produzidas em fábricas onde há trabalho escravo e levam à falência lojas de souvenirs francesas que estão tentando pagar seus impostos e o salário de seus funcionários. A pessoa que está ali vendendo a miniatura ganha pouco, e o dinheiro costuma ir para um explorador de estrangeiros ilegais. O mesmo serve para os vendedores de castanha assada.
– Muleta
Desconfie das pessoas que estejam de muleta e pedindo dinheiro; algumas são tão curvadas que quase tocam a testa no chão enquanto caminham.
Quando trabalhei em Montreuil, cansei de ver pessoas andando normalmente e com uma muleta na mão. Elas estavam indo em direção ao metrô para mais um dia de labuta.
– Mão-leve
O que aqui não tem de assalto à mão armada tem de carteirista. Tome cuidado com sua bolsa, mochila, saco etc. Se for entrar em um metrô abarrotado de pessoas, coloque sua mão na carteira, abrace sua mochila, sua bolsa e tenha sempre um olho na nuca. Muitos carteiristas ficam andando de metrô para cima e para baixo à procura dos mais desavisados (não é apenas no metropolitano onde esse tipo de roubo acontece por aqui).
– Pulseirinha colorida
Alguém irá com certeza lhe pedir para segurar a ponta de um barbante colorido. Você poderá segurá-la, mas esteja consciente de que a intenção dessa pessoa será lhe vender uma pulseira artesanal.
– Jogo dos copinhos
Tenho visto muito esse golpe ultimamente. Trata-se daquele velho jogo de colocar uma bolinha embaixo de três copinhos e de misturar os copinhos para que você aposte no lugar onde você pensa que a bolinha está.
Passe longe. Uma pessoa da equipe de golpistas costuma fingir que é turista e apostar dinheiro somente para atrair os jogadores inveterados. Não sei como fazem, mas sei que você sempre perderá o seu dinheiro.
– Almoço
Três boas opções para tapear a fome (nossa vez de dar um golpe): “Paul”, “Brioche Doré” e “Pomme de Pain”.
Golpistas existem em todo o mundo, e detesto que as pessoas sejam enganadas por causa de uma boa fé. Por favor, envie essa lista aos marinheiros de primeira viagem e não deixe de lhes dizer para aproveitar ao máximo o lado positivo de Paris, que é muito maior do que aquele onde podemos encontrar esses detalhes.

Ilustração: Helton Souto
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