9º Arrondissement
Tertúlia, 2011
L’Opéra de Paris
Eu estava em Lucca, na Itália, na porta do apartamento de Puccini, quando, abrindo a carteira, realizei que havia deixado meu cartão de crédito em Florença. Não poderia naquele dia visitar o lugar onde Puccini havia vivido.
Hoje estou no nono arrondissement de Paris, no terraço da Galeria Lafayette e tenho diante de mim a ópera Garnier. Todavia, nunca esqueci Lucca. Gostaria de escrever sobre o amor incondicional como Puccini foi capaz de fazê-lo compondo.
Olho para o horizonte e vejo a torre Eiffel, o que não rouba minha atenção. Seria capaz de agarrá-la com as mãos, como um brinquedo, jogá-la para cima, mas tudo o que a minha vista procura é um barco que esteja sendo capaz de trazê-la do seu país distante. Ela teve de partir? Estava escrito que ela teria de partir? Deixou-me seu sorriso e levou minhas orações; deixou-me sua imagem e levou a infância de minhas realizações. As folhas recomeçaram a cair. O outono chegou novamente. Depois mais um inverno chegará, mais outro inverno chegará, e eu insistirei em eternizar essa primavera de esperança para poder viver, para poder resistir, mesmo sem saber até quando, até quando poderei resistir.
Vejo um movimento no rio Senna. Será ela? Será ela? Não. É apenas mais um barco lotado de máquinas fotográficas, de uma louca correria. Como posso desistir de seu amor? Acreditar que nós não fomos feitos para estarmos juntos? Que tudo não passou de uma criação daquilo que acredito ser o infinito?
Que saudades de minha juventude, que portou consigo suas melhores forças, suas frases perfeitas de que o futuro seria perfeito e que eu conseguiria realizar todos os meus mais divinos desejos. Uma juventude que acreditou que ficaria com ela, mesmo antes de tê-la conhecido.
Um segurança da galeria toca o meu ombro. A loja irá fechar dentro de 15 minutos. Mas como partir se eu nunca voltei daqueles momentos que vivi?
Fico na ponta dos meus pés. Tento ver mais longe, tento ver o oceano, volte para mim! Volte para mim! Contudo, tudo que escuto são folhas secas e pontiagudas a caírem no chão. Outro outono, outro inverno, outro barco sem ela.
Sinto gotas de água em minha face. Lágrimas que voltaram ao lado dos primeiros flocos de uma neve que não deixou de cair, que tem caído desde o dia do seu adeus, do último abraço que ela me deu.
Até quando? Até quando? Até quando conseguirei acreditar que ela sabe que eu existo? Que eu penso nela? Até quando serei capaz de andar em frente, de procurá-la em cada nova vida? De esperá-la com toda essa paixão que sinto?
Mas um belo dia eu verei,
A elevar-se a partir do extremo confim da periferia, um fio de fumo.
E depois o Bateau Mouche aparecerá.
E depois o Bateau Mouche ancorará no quai des Tuileries.
E estrondará o seu apito!
Viram?!
Ela veio!
E eu não irei ao seu encontro. Eu não.
Colocar-me-ei lá, sobre as escadarias da ópera e esperarei.
E saído da multidão de turistas, uma mulher, um pequeno ponto caminhará pelas ruas de Paris.
Quem será? Quem será?
E como terá chegado aqui?
Que dirá? Que dirá?
Chamará Papillon de longe.
E eu não darei uma resposta.
Ter-me-ei escondido.
Um pouco por brincadeira,
Um pouco para não morrer ao primeiro encontro.
E ela um tanto em aflição, chamará, chamará:
Grande homem, cheiroso dente-de-leão.
Os nomes pelos quais me chamava quando me via.
Tudo isso acontecerá.
Eu prometo.
Retenha o medo!
Eu com uma fé inquebrável esperarei!
Esperarei!

Ilustração: Helton Souto
www.andarnapedra.blogspot.com.br