10º Arrondissement
Tertúlia, 2011
Les Gares
Paris é uma das cidades mais cosmopolitas do mundo, ao lado de Londres e Nova York. Jamais me senti um estrangeiro aqui e, pela primeira vez desde que cheguei à Europa, deixei de me sentir “o” brasileiro. Claro que as coisas estariam sendo diferentes se eu não fosse branco ou se eu usasse um lenço na cabeça, mas, mesmo que o racismo continue existindo até mesmo na França, em Paris, até os homossexuais são visto como apenas mais um povo estrangeiro. Em Paris, você pode sair com uma melancia na cabeça, com o cabelo rosa, com uma saia escocesa que ninguém vai ficar jogando piadinhas pra você.
Melancias, direito de expressão, negócios à parte. Eu sou a favor da lei que proibiu o uso da burca em território francês. Se eu fosse assaltar um banco, a primeira coisa que eu faria seria meter uma burca na cara.
Voltemos ao ponto de convergência.
Mais de 120 nacionalidades habitam no 10° arrondissement de Paris. Se você é africano ou árabe e está prestes a desembarcar em Paris, você provavelmente irá desembarcar no 10° arrondissement. Além disso, duas estações de trem – Gare du Nort e Gare de l’Est – fazem desse bairro um dos corações mais ativos do mundo. Ele bombeia, diariamente, mais de 800 mil pessoas.
Durante seis meses, fui professor de informática voluntário em um dos polos de inserção social desse bairro. Ensinei a turcos, iranianas e árabes desde o que é um mouse até o abrir de um endereço eletrônico, e o meu maior desafio foi ensinar um pouco do que sei para pessoas que quase não sabiam falar alguma das línguas que eu conheço. O que foi uma excelente oportunidade para participar do « Liberdade, Igualdade e Fraternidade », conhecer diferentes culturas e tomar cafés existencialistas com um tocador de saz.
Existem dois Arcos do Triunfo no 10° arrondissement, menores do que o mais conhecido. Louis XIV os erigiu. Ele mandou construí-los em sua glória e em honra de suas vitórias sobre o Rhin e em Franche-Comté, e aposto que Napoleão teve a intenção de superá-los quando mandou construir o seu.
Há um simpático centro de yoga na Rue du Faubourg St. Martin, onde você pode tentar sair desse trem louco da sociedade moderna e aprender a cozinhar pratos vegetarianos. Adoro carne vermelha, mas gostaria de não sentir essa necessidade de comê-la. E há uma escola de jazz na Rue Petites Ecuries, cujos professores podem contar com um dos filhos do violonista Baden Powell, Philippe Baden Powell, que, para minha surpresa, ensina piano.

Ilustração: Helton Souto
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