12º e 11° Arrondissements
Tertúlia, 2011
A Bastilha
Um dos melhores livros que já li até hoje é O Conde de Monte Cristo, o qual li no trabalho, em uma época em que não tive muito que fazer. Tinha ido para Lisboa havia seis anos e tinha trabalhado muito, mas o BUG do ano 2000 e a conversão do Escudo para o Euro haviam ficado definitivamente para trás e alguém seguia desviando dinheiro por cada trabalhador autônomo estrangeiro.
Livros em PDF – que ninguém me imagine com o tijolo do Alexandre Dumas em cima do meu teclado. Esses arquivos foram e têm sido um grande bálsamo para as tardes monótonas de alguns informáticos, e posso garantir que muitos dos meus chefes têm jurado que aquilo que eu tenho estado a ler faz parte de algum acervo de manuais.
Digno de dizer que fiz o mesmo com Os Sertões, de Euclides da Cunha, para o qual teço os mesmos elogios, mas o assunto de hoje é a vida de Edmond Dantès.
Imagine ficar meses e meses preso e sem conhecer o motivo de sua prisão. Ainda mais, depois de ter vivido os últimos quatro anos enclausurado, receber a visita de outro prisioneiro, o abade Faria, quem havia dedicado os seus últimos seis anos a cavar um buraco. Seis anos, seis anos cavando um buraco para chegar a lugar algum. Seis anos – importante incorporar tudo o que eu senti com esse livro em um parágrafo, daí a repetição. Seis anos e eu desesperado por ter de passar tardes de quatro horas, dias de oito horas na frente de um computador.
A fronteira imaginária entre o 11º e o 12° arrondissement marca o lugar onde ficava a Bastilha antes de sua queda. Sei que libertaram assassinos e ladrões para além dos presos políticos e inocentes, mas quero apenas chamar a atenção pelo sentimento que teríamos sentido se também estivéssemos estado encarcerados nessa prisão em 14 de julho de 1789.
Poucos dos milhares de turistas que passam diariamente pela Bastilha voltam no tempo e meditam sobre o que a Revolução Francesa realmente significou para a França e para o mundo, e ainda menos pessoas fotografam a Coluna Julho e supõem o quanto essa tal Queda significou para cada um dos prisioneiros que se encontravam lá, naquele momento, sendo tratados como lixos. Liberdade! Alguém chegou, abriu-lhes a porta e disse-lhes: “Você está livre! Passa batido antes que a gente bote essa coisa pra baixo e vá construir a Pont de la Concorde com suas pedras!”. Liberdade: a necessidade mais básica de qualquer ser humano. Não podemos viver sem pão, sem dormir e sem nos reproduzirmos, mas nos tirar a liberdade é o mesmo que nos retirar a vida. Se o espírito pode continuar livre? Para alguns sim: Dalai Lama, Gandhi, Mandela. Contudo, fazendo parte dos bilhões de pessoas que ainda precisam do corpo para passear por aí, uma prisão para mim seria pior do que o apocalipse.
Não há nada que liberte mais a minha mente do que escrever. Escrevendo posso voar e viajar através de galáxias; posso falar de tudo, limitado apenas pelas grades daquilo que eu considero como sendo o certo, mas sei que não conseguiria escrever em uma prisão e que preciso estar me sentindo em forma para poder escrever. A literatura liberta a mente, mas a ação liberta a alma. Uma ação que foi capaz de mudar a fisionomia de Paris e do mundo e que é louca o suficiente para…


Ilustrações: Helton Souto
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