A mão de Deus é, em fato, francesa

Bonjour Brasil, 2012

Meu pai era descendente de italianos e de sírios (ou de libaneses; nem ele sabia). Minha mãe é descendente de portugueses e de espanhóis. Meu pai nasceu no Mato Grosso do Sul, e minha mãe em Minas. Eu nasci no Rio de Janeiro, em 1971 e, em 98, parti do Brasil. Vivi seis anos em Lisboa, um pouco na Itália, dois anos na Suíça e estou há mais de um ano em Paris. Tirei a nacionalidade portuguesa, minha esposa deu-me o direito à nacionalidade italiana e, se eu vivesse cinco anos na Suíça, o que eu poderia fazer, se o quisesse, teria a nacionalidade helvética. Vou dizer que sou carioca? Que sou mesmo brasileiro? Nem pensar. Não posso. Sou um cidadão do mundo, não um documento, apesar de que não posso viver sem meu pão de queijo.

Sofro pelas misérias do Brasil e alegro-me pelas conquistas verde-amarelas, mas também lamento a fome na África e regozijo-me pelas vitórias francesas. Liberdade, Igualdade e Fraternidade, mas sejam eles, esses direitos, na Europa, na África ou na Venezuela. Admiro o virtuosismo na capoeira, amo as esculturas de Rodin e lambo os dedos ao comer um escargô. Sou viciado em croissant, acho que ele seria melhor com recheio de catupiry e fico de boca aberta ao ouvir um CD da Edith ou da Elis.

Elis Piaf / Edith Regina. Johnny Hallyday deveria ter feito músicas com o Raul Seixas. Godard deveria ter dirigido um filme com Cassilda Becker. Victor Hugo contado a história de Tiradentes, e Delacroix pintado uma cena de Umbanda. O Cristo Redentor, afinal, tem a cabeça e as mãos esculpidas na França.

Mas nada do que eu diga aqui deve ser considerado como uma verdade absoluta. Um escritor não possui verdades absolutas, ele possui apenas um ponto de vista, ele é um prisma, um ser que transforma aquilo que viu e sentiu no cristal de suas experiências pessoais e que escreve suas conclusões e dúvidas para as outras pessoas; e, se ele realmente amou a primeira vez em que fez isso, nunca mais conseguiu parar. Foi assim comigo, e é para isso que estou aqui, para compartilhar esse amor com vocês.

Pretendo falar sobre a atualidade, sobre movimentos culturais, sobre filmes, livros, sobre a minha vida, a vida dos outros (não muito mal) e sobre ideias que nascem na minha cabeça prontas para partirem. E, claro, também espero ler aquilo que vocês têm a dizer, nessa minha tentativa contínua de purificar o vidro do qual sou feito.

Enfim, agradeço a oportunidade de estar aqui, participando desse já reconhecido veículo de comunicação. Espero mostrar-me à altura da confiança que me depositaram e encontrar novos e duradouros amigos.

Vamos a isto…