


CAPÍTULO 1
O passo
Dona feirante olhou para cima e gritou:
– Minha Nossa Senhora! Ele vai pular!
O trânsito parou, as pessoas pararam, um sentimento de antecipação nasceu. Quando chegaram, os policiais e os repórteres tiveram de se transformar em novos bandeirantes, mas aquela mata estava crescendo tão densa e poderosa que logo comeu a trilha que eles haviam feito.
– Por favor, afastem-se! – disse o guarda.
– Moço, ele vai pular? – disse o menino.
– Senhora, ele é seu filho?
– É.
– Então, é melhor tirá-lo daqui.
O rapaz sentou-se no parapeito da janela, balançou as pernas e pensou: “vai chover”; nono andar, numa contagem rápida.
Tímidas gotas caíram do céu.
– Coitado… Tenho a certeza de que ele perdeu o emprego – disse o bancário.
– Pra mim, não! Pra mim, foi sua esposa que o abandonou – disse o solitário.
– Vocês estão enganados! – disse um senhor. – É lógico que ele deve estar se sentindo só e deprimido.
E, antes que dessem atenção ao que o velho dissera, chegaram os socorros. Um cambista lamentou não ter ingressos para vender.
Com passes combinados, os bombeiros isolaram o perímetro suposto, inflaram o colchão de ar e colocaram a escada para subir. Dois oficiais entraram no prédio para impedir o sinistro.
– Eu já vi coisas piores – disse o médico.
– Tem mais é que morrer! – disse o amargo.
– Vai ver que é por causa de nossa eliminação – disse o inconformado.
– Pois eu o compreendo muito bem – disse uma senhora. – A gente acumula demasiadas tristezas durante a vida.
– Não é nada disso! – disse o ascensorista. – O que ele está querendo é escapar desta mesmice de vida.
Um pombo pousou ao seu lado, e ele parou de balançar as pernas. Lembrou-se de sua família e de seus amigos. Sentiria saudade de algumas pessoas e sabia que algumas pessoas iriam sentir sua falta, mas logo viria o tempo, e todos acabariam por quase esquecê-lo. Nada mais justo! Afinal, ele também estaria seguindo seu próprio destino.
Alguém começou a esmurrar a porta de seu apartamento, e ele, percebendo a confusão armada, colocou-se de pé.
– Oh, não! Não! – disse a dona feirante, que se sentia como a mais responsável entre todas as testemunhas, por aquela tragédia iminente.
O rapaz oscilou ao sabor do vento,…
“Vá! Você é capaz! Você é capaz!”
…começou a cantarolar uma canção,…
– Sim, senhor. Eu vou sentir falta disto aqui.
…um relâmpago iluminou todas as faces,…
…e ele deu um passo em direção ao vazio.
A chuva apertou.